Você só tem um coração; não o entregue a quem não saberá carregá-lo
com ternura. Não o entregue aos leões, para que o dilacerem a
dentadas selvagens que ficam marcadas por muito tempo. Às vezes para
sempre. Não se entregue a quem não te devolve. Não se negue... Você
só tem um coração, e ele está só dentro de você; não o perca de
vista... É necessário alcançá-lo entre o êxtase e a razão, em pontos
de equilíbrio raros e fundos. Mas coração é pena, um ventinho de
amor o leva às estrelas... Você só tem um coração, segure-o firme na
sua mão. Diga-lhe que é seu – embora ele não vá escutar. Mime-o,
converse com ele sobre os novos verões que poderão mudar tudo.
Ensine a ele poesia, quem sabe Vinícius de Moraes e um pouco de
Clarice Lispector. E também a música, já que ela tem a capacidade
inacreditável de compreender o invisível. Você só tem um coração,
não o esqueça por nada neste mundo. Não o venda, não o hipoteque,
não o empreste e muito menos o dê – a não ser que receba outro
coração em troca, um que você queira. Não o dê assim para qualquer
um, um embrulho estranho sem destino certo. E o mais importante: dê!
Um dia... Preserve-se. Não demais, não de menos. Você só tem um
coração e nele cabe o amor. Ainda que transborde. Ainda que amoleça,
endureça e depois transforme. Amor é matéria de mistério, coração é
matéria de infinito. Sem mais explicações! Mas sabemos que todos
estes milhares de fórmulas sobre o coração já se provaram falhos...
Apenas então tente salvá-lo. Descubra sua própria salvação, guarde-a
com sua chave e com seu nome ainda que esse nome não seja “amor”.
Embora vá provavelmente ser, sem talvez você saber.
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