domingo, 12 de dezembro de 2010

Poeta: Vinícius de Moraes - Livro de Sonetos - Soneto a Octavio de Faria

Não te vira contar sem voz, chorar
Sem lágrimas e lágrimas e estrelas
Desencantar, e mudo recolhê-las
Para lançá-las fulgurando ao mar?

Não te vira no bojo secular
Das praias, desmaiar de êxtase nelas
Ao cansaço viril de percorrê-las
Entre os negros abismos do luar?

Não te vira ferir o indiferente
Para levar os olhos da impostura
De uma vida que cala e que consente?

Vira-te tudo, amigo! coisa pura
Arrancada da carne intransigente
Pelo trágico amor da criatura.

Oxford, 1939

Nenhum comentário:

Postar um comentário