I
Camarada Eisenstein, muito obrigado
Pelos dilemas, e pela montagem
De Canal de Ferghana, irrealizado
E outras afirmações. Tu fostes a imagem
Em movimento. Agora, unificado
À tua própria imagem, muito mais
De ti, sobre o futuro projetado
Nos hás de restituir. Boa viagem
Camarada, através dos grandes gelos
Imensuráveis. Nunca vi mais belos
Céus que esses sob que caminhas, só
E infatigável, a despertar o assombro
Dos horizontes com tua câmera ao ombro...
Spasibo, tovarishch. Khorosho.
II
Pelas auroras imobilizadas
No instante anterior; pelos gerais
Milagres da matemática; pela paz
Da matéria; pelas transfiguradas
Faces da história.; pelo conteúdo
Da História e em nome de seus grandes idos
Pela correspondência dos sentidos
Pela vida a pulsar dentro de tudo
Pelas nuvens errantes; pelos montes
Pelos inatingíveis horizontes
Pelos sons; pelas cores; pela voz
Humana; pelo Velho e pelo Novo
Pelo misterioso amor do povo
Spasibo, tovarishch. Khorosho.
III
O cinema é infinito -- não se mede.
Não tem passado nem futuro. Cada
Imagem só existe interligada
À que a antecedeu e à que a sucede.
O cinema é a presciente antevisão
Na sucessão de imagens. O cinema
É o que não se vê, é o que não é
Mas resulta: indizível dimensão.
Cinema é Odessa, imóvel.na manhã
À espera do massacre; é Nevski; é Ivan
O Terrível; és tu, mestre! maior
Entre os maiores, grande destinado...
Muito bem, Eisenstein. Muito obrigado.
Spasibo, tovarishch. Khorosho.
Los Angeles, 12 fevereiro, 1948
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