sábado, 9 de abril de 2011

Poeta: Vinícius de Moraes - Livro de Sonetos - Tríptico na Morte de Sergei Mikhailovitch Eisenstein

 I

Camarada Eisenstein, muito obrigado
Pelos dilemas, e pela montagem
De Canal de Ferghana, irrealizado
E outras afirmações. Tu fostes a imagem

Em movimento. Agora, unificado
À tua própria imagem, muito mais
De ti, sobre o futuro projetado
Nos hás de restituir. Boa viagem

Camarada, através dos grandes gelos
Imensuráveis. Nunca vi mais belos
Céus  que esses sob que caminhas, só

E infatigável, a despertar o assombro
Dos horizontes com tua câmera ao ombro...
Spasibo, tovarishch. Khorosho.


II

Pelas auroras imobilizadas
No instante anterior; pelos gerais
Milagres da matemática; pela paz
Da matéria; pelas transfiguradas

Faces da história.; pelo conteúdo
Da História e em nome de seus grandes idos
Pela correspondência dos sentidos
Pela vida a pulsar dentro de tudo

Pelas nuvens errantes; pelos montes
Pelos inatingíveis horizontes
Pelos sons; pelas cores; pela voz

Humana; pelo Velho e pelo Novo
Pelo misterioso amor do povo
Spasibo, tovarishch. Khorosho.


III 

O cinema é infinito -- não se mede.
Não tem passado nem futuro. Cada
Imagem só existe interligada
À que a antecedeu e à que a sucede.

O cinema é a presciente antevisão
Na sucessão de imagens. O cinema
É o que não se vê, é o que não é 
Mas resulta: indizível dimensão.

Cinema é Odessa, imóvel.na manhã
À espera do massacre; é Nevski; é Ivan
O Terrível;  és tu, mestre! maior

Entre os maiores, grande destinado...
Muito bem, Eisenstein. Muito obrigado.
Spasibo, tovarishch. Khorosho.

Los Angeles, 12 fevereiro, 1948 
 
 

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