quinta-feira, 23 de junho de 2011

Poeta: Fernando Pessoa - Em toda a noite

Em toda a noite o sono não veio. Agora
Raia do fundo
Do horizonte, encoberta e fria, a manhã.
Que faço eu no mundo?
Nada que a noite acalme ou levante a aurora,
Coisa séria ou vã.
Com olhos tontos da febre vã da vigília
Vejo com horror
O novo dia trazer-me o mesmo dia do fim
Do mundo e da dor -
Uma dia igual aos outros, da eterna família
De serem assim.

Nem o símbolo ao menos vale, a significação
Da manhã que vem
Saindo lenta da própria essência da noite que era.
Para quem,
Por tantas vezes ter sem esperado em vão,
Já nada espera.

Fernando Pessoa
(1888-1935)

Nenhum comentário:

Postar um comentário