terça-feira, 24 de abril de 2012

Poesia: Sophia de Mello Breyner - Meditação do Duque de Gandia sobre a morte de Isabel de Portugal




 Nunca mais
 A tua face será pura, limpa e viva
 Nem o teu andar como onda fugitiva
 Se poderá nos passos do tempo tecer.
 E nunca mais darei ao tempo a minha vida.

 Nunca mais servirei Senhor que possa morrer.
 A luz da tarde mostra-me os destroços
 Do teu ser. Em breve a podridão
 Beberá os teus olhos e os teus ossos
 Tomando a tua mão na sua mão.

 Nunca mais amarei quem possa viver
 Sempre.
 Porque eu amei como se fossem eternos
 A glória, a luz e o brilho do teu ser,
 Amei-te em verdade e transparência
 E nem sequer me resta a tua ausência,
 És um rosto de nojo e negação
 E eu fecho os olhos para não te ver.

 Nunca mais servirei Senhor que possa morrer.

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