quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Poeta: Augusto dos Anjos - Versos a um cão

Que força pôde adstrita e embriões informes,

Tua garganta estúpida arrancar

Do segredo da célula ovular

Para latir nas solidões enormes?


Esta obnóxia inconsciência, em que tu dormes,

Suficientíssima é, para provar

A incógnita alma, avoenga e elementar

Dos teus antepassados vemiformes.


Cão! -- Alma do inferior rapsodo errante!

Resigna-a, ampara-a, arrima-a, afaga-a, acode-a

A escala dos latidos ancestrais...


E irás assim, pelos séculos adiante,

Latindo a esquisitíssima prosódia

Da angústia hereditária dos teus pais!

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