terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

Poeta: Leila Krüger - Leões


Você só tem um coração; não o entregue a quem não saberá carregá-lo com ternura. Não o entregue aos leões, para que o dilacerem a dentadas selvagens que ficam marcadas por muito tempo. Às vezes para sempre. Não se entregue a quem não te devolve. Não se negue... Você só tem um coração, e ele está só dentro de você; não o perca de vista... É necessário alcançá-lo entre o êxtase e a razão, em pontos de equilíbrio raros e fundos. Mas coração é pena, um ventinho de amor o leva às estrelas... Você só tem um coração, segure-o firme na sua mão. Diga-lhe que é seu – embora ele não vá escutar. Mime-o, converse com ele sobre os novos verões que poderão mudar tudo. Ensine a ele poesia, quem sabe Vinícius de Moraes e um pouco de Clarice Lispector. E também a música, já que ela tem a capacidade inacreditável de compreender o invisível. Você só tem um coração, não o esqueça por nada neste mundo. Não o venda, não o hipoteque, não o empreste e muito menos o dê – a não ser que receba outro coração em troca, um que você queira. Não o dê assim para qualquer um, um embrulho estranho sem destino certo. E o mais importante: dê! Um dia... Preserve-se. Não demais, não de menos. Você só tem um coração e nele cabe o amor. Ainda que transborde. Ainda que amoleça, endureça e depois transforme. Amor é matéria de mistério, coração é matéria de infinito. Sem mais explicações! Mas sabemos que todos estes milhares de fórmulas sobre o coração já se provaram falhos... Apenas então tente salvá-lo. Descubra sua própria salvação, guarde-a com sua chave e com seu nome ainda que esse nome não seja “amor”. Embora vá provavelmente ser, sem talvez você saber.

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